terça-feira, 28 de julho de 2015

CRÓNICA JOSÉ LUÍS NUNES MARTINS

Inline image 1FELIZES OS QUE CHORAM

Apesar de parecerem pedaços de solidão, as lágrimas são gotas de amor que nascem aos pares.
As tristezas não são aflições. A tristeza é o que fica depois da desgraça do momento. Estar triste dura. 
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Os naturais tormentos da vida ensinam-nos que ser feliz é uma forma de viver nas profundidades imutáveis da existência, não nas superfícies e aparências agitadas e passageiras da vida.
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A fragilidade humana leva a que por vezes tenhamos de experimentar o que julgamos ser o desaparecimento da nossa felicidade... perdemos e sentimos as perdas. Perdemos o que temos, mas não o que somos. Amar é dar-se. Os que nos amaram deram-se-nos. Não se perderam porque existem em nós. Sou também aquele que me amou. Que me ama.
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A dor é um mal. Por vezes, chega através da culpa. Quando não percebemos bem o que sentir e o que pensar. Quando dizemos o que era para calar ou fazemos silêncio do que era para dizer. Quando não escolhemos bem o que fazer ou como fazê-lo. 
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Por vezes, a mágoa é funda. Tantas vezes é a própria liberdade que parece ser o nosso castigo. Quanto mais opções temos adiante, maiores serão depois os arrependimentos. 
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Mais profunda do que a pena é a saudade verdadeira. A pena é uma impressão de desgosto que se crava no coração. A saudade é muito mais doce mas, qual espada, muito mais dura, afiada e longa. Parece destruir o que celebra. Trata-se de uma das tristezas mais fundas... a de se haver perdido o que se teve, a de se continuar a amar o que já não está aqui connosco. A de se continuar a ser dois depois de deixarmos de sentir o outro. 
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Há quem, mesmo triste, escolha alimentar-se da luz. E quem, em igual situação, prefira alimentar as sombras. Um amor que se fez ausente dói, mas o sofrimento só existe porque o bem não desapareceu. Está ali. Não foi destruído ou esquecido, pois, nesse caso, não se sofreria, porque teria desaparecido também a razão pela qual sofrer.
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A saudade é um bem pelo qual se sofre. 
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Uma saudade que se extingue é sinal de um amor que não existiu. Os amores que acabam nunca são verdadeiros... 
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A vida é uma alegria profunda. Um mistério. Um milagre.
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Não há tristeza pura... porque flutua sempre nela uma certa paz: a da certeza de um além que existe.
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Todas as lutas são lutos... e os lutos são marcas da verdade e da tristeza de quem é feliz… 
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O luto é uma gravidez ao contrário. Um processo lento por onde o matéria se vai convertendo em espírito. Enriquecendo-nos pelo amor de que nos faz criadores.
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O consolo de quem chora é a certeza de que quando se ama... a felicidade está tudo e é para sempre.
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As lágrimas são silêncios que abrem os nossos olhos à luz.

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José Luís Nunes Martins
25 de julho de 2015
Ilustração de Carlos Ribeiro

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