segunda-feira, 22 de junho de 2015

CRÓNICA JOSÉ LUÍS NUNES MARTINS

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A alegria nasce de um contentamento interior. Só há alegria quando há equilíbrio e sossego profundos. Pode fingir-se a alegria, disfarçando com ela estados íntimos de tristeza, assim como se pode contê-la manifestando-se o agrado de uma forma mais moderada. Confunde-se muitas vezes a alegria com a loucura, porque nunca é fácil compreender se aquele que ali salta, ri e dança o faz por ter encontrado a paz no seu coração ou se essas são as suas formas desesperadas de tentar alcançar um estado de agradável sossego interior.
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Há pois a alegria que brota da paz interior; outra que é um disfarce apenas; e, a que é uma forma desesperada de buscar o sossego da alma, tentando levá-lo de fora para dentro.
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A nossa paz depende mais do que somos e queremos ser do que daquilo que acontece no mundo à nossa volta. A verdadeira paz não está nos outros ou nas coisas, repousa no fundo de nós… faz-nos repousar no fundo de si… Também numa roda, tudo gira… menos o eixo.
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Há tristezas superficiais e profundas. Umas e outras coexistem no coração de quem é feliz. A vida é feita de ganhos e perdas. Subimos e descemos encostas, umas vezes suaves, outras, íngremes. Mas o nosso caminho leva-nos sempre para diante. O amanhã fará do hoje passado sem que nada possamos fazer quanto a isso. A alegria autêntica passa por compreender que a existência é este desafio constante a viver sempre mais, por muito que queiramos viver num estado de dilatação eterna apenas dos momentos bons.
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Na vida como nos caminhos, mais do que começar alegre, importa chegar contente. Compreendendo sempre que a vida só faz sentido se cada chegada for a partida para uma nova aventura.
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As alegrias superficiais são sempre tempestuosas e passageiras, sendo sinais fiéis da aproximação de infelicidades mais fundas. A alegria autêntica permite-nos fugir do tempo e experimentar, por momentos, a eternidade. Mas, com a mesma calma que assim nos eleva, também nos volta a pousar no chão.
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A alegria e as tristezas revelam a essência dinâmica da nossa existência. Viver é estar lançado em pleno voo entre dois horizontes… passando por mil mundos de esperanças, dores, belezas e tormentos, sem nunca ser possível determo-nos em nenhum.
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É bom recordar os dias e anos em que vivemos com mais sabedoria. Em que éramos felizes e nem sequer tínhamos ideia disso. Mas visitar o passado de forma recorrente é não aceitar a vida como ela é: sempre nova. A essência de cada um de nós é uma migalha de vida, um pedaço de luz que garante que somos parte de algo maior que, embora não o possamos compreender, é possível senti-lo… se formos capazes de o admirar.
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A alegria resulta de uma harmonia consigo mesmo, mais do que com os outros, a alegria resulta de uma atitude de bondade pura. Uma forma de estar atento às pequenas coisas e aos sinais subtis do que há neste mundo de mais elevado. Só a verdade vê a verdade. Só a bondade vê a bondade. Apenas quem ousa ser verdadeiro e bom pode admirar o caminho que deve construir. Por onde terá paz e será feliz, a cada passo… 
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Não há ninguém, por pior que tenha feito, que não consiga fazer-se bom e verdadeiro.
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A alegria é um bem e só faz sentido se for partilhada. O gozo pela desgraça alheia é uma loucura, no pior e mais triste sentido da insanidade mental e emocional.
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O verdadeiro contentamento encontra no silêncio a sua mais eloquente expressão.
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As nossas dores também se aliviam pela companhia simples de quem nos quer bem. Amar é fazer-se presente. Entregar-se como um bem. Ainda que longe no espaço e no tempo, o amor encontra sempre forma de chegar… e quem o espera já vive um pouco daquilo que espera... uma alegria. Profunda. Verdadeira. Apesar de tudo.

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20 de junho de 2015
Ilustração de Carlos Ribeiro

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